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Em sua segunda edição, evento abordou diversos assuntos relacionados ao processo histórico de discriminação da população negra no Brasil, especialmente das mulheres. Em destaque esteve a discussão sobre o “genocídio epistêmico”, que é a destruição sistemática de conhecimentos e formas de saber do povo negro, por conta da dominação colonial e da imposição de uma única visão de mundo, a ocidental

 

A educação como ferramenta de combate ao racismo foi tema de reflexões na tarde desta terça-feira, 22 de junho, no Auditório da Associação Mineira do Ministério Público (AMMP), em Belo Horizonte, durante o “Julho das Pretas”.  

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O evento, realizado pelo segundo ano consecutivo pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), no âmbito do programa institucional antirracista “Sobre Tons”, e transmitido pela TV MP, celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, comemorados em 25 de julho. 

Com a participação de pesquisadoras, artistas e lideranças negras, a iniciativa busca ampliar o debate sobre o enfrentamento às discriminações de gênero e de raça e fortalecer a articulação coletiva e autônoma das mulheres negras na sociedade.    

Esta edição do evento contou com palestra proferida pela professora e escritora baiana Bárbara Carine, conhecida nas redes sociais como “Uma intelectual diferentona”, e pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais Maria Aparecida Moura.  

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Elas abordaram diversos assuntos relacionados ao processo histórico de discriminação da população negra no Brasil, especialmente das mulheres, e defenderam a educação como ferramenta fundamental de enfrentamento ao racismo. A mestra de capoeira Angola e arte educadora Marilene Rodrigues atuou como debatedora no evento. 

Durante o encontro, organizado pela Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação (Ccrad) e pelo Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf) do MPMG, houve, também, intervenções artísticas da poeta Nívea Sabino, da atriz Renata Paz e da mestra de capoeira Angola e percursionista Alcione Oliveira. A apresentação do evento foi feita pela jornalista Sandra Flávia Nandaka. 

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Participaram da mesa de abertura a procuradora-geral de Justiça Adjunta Jurídica, Reyvani Jabour Ribeiro; a coordenadora da Ccrad, Nádia Estela Ferreira Mateus; a diretora do Ceaf, Cássia Virgínia; o secretário adjunto de Desenvolvimento Social do Estado, Ricardo Alves; e a primeira diretora administrativa da AMMP, Fernanda de Paula Silva. 

Genocídio epistêmico 

Entre os assuntos de destaque nas discussões esteve o genocídio epistêmico, ou epistemicídio, que é a destruição sistemática de conhecimentos e formas de saber do povo negro, por conta da dominação colonial e da imposição de uma única visão de mundo, a ocidental.  

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Vencedora do Prêmio Jabuti 2024 na categoria “Educação”, com o livro “Como ser um educador antirracista”, Bárbara Carine comentou com o público sobre o momento em que percebeu, em uma formação acadêmica, uma carência grande de autorreferência positiva. “Eu não li intelectuais negros, eu não me formava por meio de uma intelectualidade que fosse espelho para mim. Não tem problema nenhum ler intelectuais brancos, mas há um problema gigantesco em apenas lê-los, porque você se constrói a partir de uma lógica de um espelho quebrado. E a gente precisa se ver positivado nesse espelho”, ressaltou. 

De acordo com a escritora, foi somente a partir de 2014, por meio do movimento negro acadêmico, que ela começou a acessar obras de intelectuais negros, o que transformou radicalmente sua perspectiva da educação e a levou a fundar, em 2017, em Salvador, a escola afro-brasileira Maria Felipa - primeira instituição de educação infantil afro-brasileira cadastrada no Ministério da Educação (MEC).  

O processo histórico de apagamento dos saberes negros também foi abordado pela palestrante Maria Aparecida Moura, primeira professora negra titular da UFMG. Ela citou trechos de obras de diversas escritoras negras para reiterar que o saber não é neutro e que há desigualdades profundas no modo de produzir, distribuir e validar conhecimentos. “No Brasil, o epistemicídio é uma política histórica de apagamento de saberes negros, indígenas e periféricos. Como alerta Sueli Carneiro, ‘o racismo é também um regime de negação do saber’”, frisou.   

Segundo Cida Moura, como é conhecida no meio acadêmico, a educação colonial não apenas exclui, mas violenta, transforma saberes ancestrais em folclore, desautoriza a oralidade como fonte legítima e marginaliza a experiência como critério de validação. Fazendo referência ao pensamento da escritora estadunidense bell hooks, ela defendeu a educação multicultural como eixo central para uma pedagogia transformadora. “É preciso repensar profundamente os modos de ensinar, os conteúdos selecionados e as relações estabelecidas em sala de aula. É fundamental que os educadores brancos se comprometam com o processo de desaprender o racismo”, apontou.  

Chamado à memória e à justiça 

Na abertura do evento, a coordenadora da Ccrad, promotora de Justiça Nádia Estela Ferreira Mateus, salientou que, mais do que uma data, o 25 de Julho é um chamado à memória, à justiça e à ação concreta contra o racismo e o sexismo. “É uma agenda afirmativa que reconhece as mulheres negras como protagonistas da transformação social, dando visibilidade às suas vozes, lutas e contribuições históricas frente às opressões estruturais”, pontuou. 

Ainda de acordo com Nádia, celebrar o Julho das Pretas é reafirmar que não há democracia sem equidade racial e de gênero. “É reconhecer, com respeito e admiração, as trajetórias de mulheres negras que desafiam as desigualdades enraizadas na sociedade, movidas pela coragem, sabedoria ancestral e resistência cotidiana. É entender que toda mudança profunda perpassa pela educação, pelo modo como ensinamos e, sobretudo, como nos abrimos ao aprendizado”. 

Segundo a promotora de Justiça, por meio do Sobre Tons, o MPMG busca reafirmar a centralidade da educação antirracista como poderoso instrumento de justiça e transformação social.  

 
 
 
 
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Sobre Tons 

Criado em 2023, com o objetivo de fomentar e construir uma cultura antirracista, o Sobre Tons busca sensibilizar a sociedade em relação às pautas raciais e temáticas antidiscriminatórias, por meio de conteúdos informativos e da integração do tema a programas e projetos já existentes na instituição em parceria com outras instituições. Clique aqui para conhecer outras ações do programa. 

O “Julho das Pretas” recebeu este nome em referência às ações político-sociais e agenda conjunta e propositiva com organizações e movimentos de mulheres negras do Brasil, voltada para o fortalecimento da articulação coletiva e autônoma das mulheres negras. 

Veja mais fotos do evento: 

Julho das Pretas - Sobre Tons 22.07.2025

 

 

 

 

 

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