Notícias - Meio AmbienteProjeto do MPMG beneficiará 100 famílias em situação de rua com moradia solidária
Cem famílias em situação de rua de Belo Horizonte serão beneficiadas com moradias alugadas na segunda fase do Projeto Meio Ambiente Acolhe, uma parceria do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma), e da Pastoral Nacional do Povo da Rua. O lançamento da fase dois do projeto foi nesta quarta-feira, 14 de dezembro de 2022, na sede do MPMG em Belo Horizonte, e contou com a palestra “Não há tempo a perder” do navegador Amir Klink e da fotógrafa ambiental Marina Klink, que discorreram sobre a realização de sonhos.
Esta fase do projeto Meio Ambiente Acolhe conta com R$ 5,4 milhões em recursos de medidas compensatórias ambientais obtidas pelo MPMG que irão custear aluguéis solidários para famílias vulneráveis. Em um primeiro momento, serão beneficiadas 100 famílias e a expectativa é que as primeiras moradias sejam ocupadas entre o final de 2022 e o início de 2023. De acordo com o coordenador do Caoma, promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, a instalação das pessoas será feita aos poucos ao longo de 2023, porque haverá um acompanhamento de perto. “O projeto é pioneiro pois parte da premissa de que o primeiro ponto necessário para resgatar a dignidade é a moradia. Com essa inserção, outros alicerces virão na sequência, como o emprego”, esclarece.

A seleção dos beneficiados e dos imóveis que serão locados fica a cargo da Pastoral Nacional do Povo da Rua. A assessora da entidade, Irmã Maria Cristina Bove Roletti, explicou que a previsão, nessa primeira fase, é dar prioridade aos mais vulneráveis, como idosos, pessoas com deficiência e aqueles que estão nas ruas há pouco tempo, devido à pandemia. A seleção das casas está sendo feita junto a imobiliárias e, entre os critérios para a escolha das residências, está o acesso à mobilidade.
Após a instalação das famílias nas residências também haverá um acompanhamento psicológico, de saúde e de assistência social. A expectativa, segundo a Irmã Maria Cristina, é acompanhar as famílias e integrá-las aos serviços do Sistema Único de Assistência Social (Suas), do governo federal, para que a retirada da rua seja feita de forma efetiva. Ela ressaltou que a sociedade atual descarta pessoas permanentemente e o projeto rompe essa lógica com o caminho da inclusão, permitindo que essas famílias tenham uma casa pra voltar todos os dias depois do trabalho.

Irmã Maria Cristina informou ainda que, de acordo com dados do Cadastro Único, Belo Horizonte tem cerca de 11 mil pessoas em situação de rua, número que quase triplicou devido à pandemia, visto que no fim de 2019 eram 4 mil pessoas nas mesmas circunstâncias. Em Minas Gerais, o total de pessoas em situação de rua gira em torno de 18 mil e o número nacional chega a 280 mil. “Os números estão se multiplicando e resultando nesse fenômeno”, ressaltou.
O coordenador do Caoma destacou que o projeto Meio Ambiente Acolhe é inovador, pois faz um link entre as mudanças climáticas e as pessoas vulneráveis. “As mudanças climáticas impactarão o planeta. No entanto, são principalmente os mais vulneráveis que sentirão as consequências”, afirmou. Além de elaborar o projeto e de fazer a destinação dos recursos, o MPMG também acompanhará a fiscalização.
O projeto tem o apoio da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos) e o Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (CAO-DH) do MPMG e a Associação Mineira do Ministério Público (AMMP).

O lançamento da segunda fase contou com a presença da secretária-geral do MPMG, promotora de Justiça Cláudia Pacheco, representando o procurador-geral de Justiça, Jarbas Soares Júnior, a secretária de Estado de Desenvolvimento Social, Elizabeth Jucá, o coordenador do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua do programa "Polos de Cidadania" da UFMG, André Freitas, o corregedor-geral do Ministério Público de Minas Gerais, Marco Antonio Lopes de Almeida, promotores e procuradores de Justiça, autoridades, representantes de entidades civis, da Pastoral Nacional do Povo da Rua.
Planejamento dos sonhos
A busca para realizar os sonhos no tempo presente e não deixá-los pra depois foi uma das mensagens da palestra “Não há tempo a perder”, do casal Amir e Marina Klink, que precedeu o lançamento da segunda fase do projeto Meio Ambiente Acolhe.

Amir, que é formado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), relatou sua trajetória desde o interesse por velejar e navegar, o sonho das empreitadas no mar, passando pela primeira experiência para atravessar o Atlântico com um barquinho construído por ele mesmo, que partiu da Namíbia em junho de 1984. “Eu não estava com medo. Estava em pânico. Mas também estava feliz porque tinha um plano pra cumprir”, disse.
No fim desta primeira experiência, conseguiu chegar ao litoral do Brasil passando por 22 tempestades. Também cruzou, durante o trajeto, com três grandes navios que não o viram, de tão pequeno. “Por isso dizem que navio é cego. Eles não me viram. Se eu estivesse dormindo, poderia ter sido atropelado. Eu consegui cumprir meu plano, mas sempre é possível fazer um incremento. O ser humano tem necessidade de evoluir, de melhorar. Quando cheguei ao destino, eu estava triste de ter que deixar o meu barquinho”, relembrou.
Ele relatou os problemas e as dificuldades que teve e a importância de fazer um planejamento. “Muitos erros ocorrem quando a gente foge do programa”, disse ressaltando que no mar a cultura da esperteza, tão comum no Brasil, não tem vez. Amir também ressaltou que quando mudamos a perspectiva, o problema se transforma. Foi o que ocorreu quando partiu para passar muitos meses sozinho durante o inverno da Antárctida. “Eu transformei o problema, que era ficar sozinho velejando com o navio preso no gelo, em objetivo”, comentou.
Nessa viagem, que demandou cinco anos de trabalho antes da partida, ele levou suprimentos para não tirar nada da natureza e tudo deveria ser usado com parcimônia. Também tinha que cuidar de todos os processos sozinho: fornecimento de água, calor, administração do esgoto. "Nessas horas, a gente percebe o valor daquelas pessoas que trabalham para as coisas acontecerem, mas são invisíveis. Em casa, a gente abre a torneira e saí água, mas nunca nem imaginamos qual é todo o caminho percorrido para água chegar até nós. Em um barco que veleja durante meses, isso tudo deve ser previsto. No mar congelado, é necessário prever tudo isso e cuidar pra que se mantenha funcionando.
Ele terminou a palestra relatando que a nova geração precisa de experiências autênticas. “Minha filha questionava porque nunca tínhamos ido à Disney e depois de algum tempo ela me disse ter entendido o motivo: ‘é porque lá é tudo de mentira’”, contou.
Trazer sonhos pra perto
Marina Klink, esposa de Amir e fotógrafa ambiental, ressaltou durante a sua palestra a importância de não deixar a realização dos sonhos para depois. “Agora não dá, talvez outra vez, e o sonho acaba sendo guardado na gaveta. Temos que começar a realizar os nossos sonhos agora. Não ficar esperando um momento perfeito. Acho que foi por isso que me apaixonei pelo Amir: ele sonha e faz”, disse.

Foi assim que decidiu partir com Amir e as três filhas ainda pequenas para a Antártida. Pediu que as crianças fizessem um diário com o registro das experiências para lembrar posteriormente. Marina, por sua vez, fotografava os animais e tudo a natureza no caminho. Mas foi uma provocação do marido que transformou as fotos em um projeto maior. Passou a organizar as imagens, que se tornaram ferramentas para palestras das filhas sobre o meio ambiente em escolas, além de exposições. Os registros nos diários viraram um livro. “Uma vez, cheguei em uma escola e vi uma parede cheia de desenhos de crianças inspirados em nossas fotos, nossos registros. Foi muito emocionante!”, disse. “Às vezes, nosso propósito é mais do que estamos acostumados a fazer todos os dias”.
Marina também mostrou fotos do lixo que já encontraram e de episódios de animais que morreram por ingerirem objetos descartados, como um pinguim que morreu sufocado por uma máscara cirurgica. “Já são encontrados resíduos plásticos no corpo de animais, no sangue humano e até no leite materno. Isso que estamos vivendo é uma crueldade”, desabafou. Amir e Marina também citaram efeitos das mudanças, como a diferença ação do sol de hoje e de 20 anos atrás. “Eu ficava no sol da Antártida sem camisa o dia todo e não queimava. Agora, há pessoas que se queimam por falta de protetor solar”, comentou.
A fotógrafa ambiental finalizou a palestra afirmando que podemos fazer tudo e que isso depende da nossa vontade. “Precisamos trazer os sonhos pra perto da gente. Dizem que o piso dos filhos é o ombro dos pais, pois eles vão começar a vida onde nós terminamos”, concluiu.
